sexta-feira, 15 de agosto de 2008

- O que você veio fazer aqui? – Victor perguntou seco quando abriu a porta e me viu parada na soleira.
- Posso entrar?
- Você sabe que não. O que quer?
- Vim te trazer isso. – estendi um envelope para ele.
- Pode me adiantar o que é?
- São fotos do meu primeiro exame de ultra-sonografia. O bebê está bem. O nosso bebê está bem. – Falei com firmeza a última frase e ele hesitou um minuto, mas quando voltou a me encarar, parecia decidido.
- Vai embora. Não quero ver isso. Acabou, Lavínia. – começou a fechar a porta, mas eu me precipitei e o abracei com força.
- Não faz isso. Me deixa explicar. Esse bebê é seu, eu juro que nunca te trai.
- Ah, é meu? E como você explica aquele aborto, em Durmstrang? E a nossa ‘incompatibilidade’ para ter filhos?

Ele me empurrou pra longe e perguntou alterando um pouco a voz. Uma lágrima saltou do meu olho.

- Era do Naveen. Eu estava grávida do Naveen.

Disse em desesperada e olhando pra baixo. Um silêncio agonizante estava entre nós dois. Levantei a cabeça para encará-lo e ele me olhava com uma mistura de susto com mágoa. Entrou e bateu a porta com força na minha cara e me deixei desabar sozinha no corredor.


----------------

Victor caiu sentado na cama, perplexo.

- Porque não me contou antes? – ele quebrou o silêncio de vários minutos, perguntando com a voz fraca.
- Não tive coragem. A morte do seu tio, a prisão do Naveen. Foi tudo tão corrido... E, além disso, eu não sabia como contar.
- Você está bem? Quero dizer, foi um aborto... Teve alguma outra complicação?
- Não, eu estou bem. Eu só fiquei sabendo da gravidez depois de abortar.
- Um filho... – Victor disse em voz baixa e me sentei do seu lado, na cama.
- É...

Nos encaramos e ele me puxou para um abraço apertado.

- Está tudo bem mesmo, não é? Nós ainda estamos juntos?!
- É claro que estamos! – respondi assustada afundando o rosto no ombro dele. – Se lembra da promessa que me fez, ano passado, de que nunca iria me deixar... Continua de pé?
- Óbvio que sim. Estou aqui, certo? Nós vamos passar por isso, juntos. – ele puxou meu rosto para me olhar. – Eu amo você, Lavínia Durigan. Entende isso agora? – disse abrindo um sorriso que me tranqüilizou e me fez esquecer todos os outros problemas. Concordei com a cabeça também sorrindo.
- Eu também amo você, Victor Neitchez. – respondi o beijando em seguida.

----------------

A nossa estadia na Espanha, na casa da Evie, estava muito divertida. Saíamos todas as noites para animadas festas em boates ou bares. Iríamos embora em uma semana e nem acreditávamos no quanto as férias haviam passado rápido. Evie e os primos nos levaram a um pub muito agitado, em Madrid. Estávamos todos sentados na mesa, bebendo e conversando, quando um bonito rapaz moreno chegou sorridente, abraçando Evie.

- Estevan!!! – ela retribuiu o abraço, animada. – Nossa. Há quanto tempo!
- Você sumiu, Evie.
- Você também. Nunca mais te vi por aqui. Ainda em Beauxbatons? – ela perguntou em voz baixa e nos surpreendeu, pois à primeira impressão, ele parecia trouxa.
- Sim. Por pouco tempo...
- Do que está falando?
- Estamos nos formando, não é? Só falta um ano, para mim, para você... Pouco tempo. – ele respondeu dando uma piscadinha e Evie o encarou ainda sem se convencer de que ele estava sendo totalmente sincero. Se deu por vencida.
- É. Para quem já ficou seis anos, um a mais, um a menos... Sente-se conosco. Meus primos você já conhece. Essas são minhas amigas: Ludmilla, Lavínia e Nina. Estudam comigo.

Ele cumprimentou todos da mesa com apertos de mão e se parou um pouco mais no de Nina. Ficaram se encarando uns segundos, até ela abaixar os olhos constrangida. Eu, Evie e Milla trocamos olhares divertidos. Estevan se sentou entre Evie e Nina.

- Estudam com você, é? – disse ainda com os olhos em Nina. – Interessante...
- Interessante mesmo. Muito interessante. – Milla cochichou no meu ouvido e rimos, observando o menino puxar conversa com Nina.

°°°

A despedida da Espanha, e da família da Evie, foi um tanto mais dramática do que imaginávamos. A verdade é que não queríamos admitir que as férias de verão estivessem chegando ao fim, e não queríamos voltar para casa. No meu caso, voltar para casa significava enfrentar uma nova lista de materiais, a perspectiva de começar o último ano de escola, os NIEM’s, etc.
A última semana fora mais divertida do que todas as outras. Culpa do Estevan, que conseguiu dobrar a Nina, e fez com que ela embarcasse em um “amor de verão” rebelde. Tão rebelde que ela nem mais falava sobre os irmãos Parker, em especial, o Michael.

- Não vamos ficar muito tempo sem nos ver. Eu garanto. – ele dizia pra ela, enquanto se despediam.
- Ok. Eu preciso resolver alguns assuntos, você sabe...
- Sei. Mas isso não te impede de me escrever, não é? Você tem meu endereço.
- E você o meu. – ela sorriu e eles deram um longo abraço. Nina se livrou dele pouco tempo depois e ao perceber que os olhávamos curiosos, corou. Veio andando em nossa direção, decidida a não nos deixar espaço para comentários maliciosos. – Muito obrigada por tudo, Evie. Me diverti muito aqui. Nos vemos então em uma semana.

Acenou uma última vez para nós e Estevan e mergulhou nas chamas verdes da lareira. Eu fui logo depois dela e sai na sala da nossa casa de Dublin, onde Vlade me recepcionou com um sorriso desanimado no rosto.

----------------

- Da próxima vez que cogitar a idéia de tirar férias, me impeça, por favor. – Vlade disse dramático e ri. – Está rindo porque você se divertiu, não é? Experimente ficar um mês inteiro dentro desta casa.
- Você também deveria ter viajado para algum lugar.
- Sozinho? – ele perguntou com desdém e sacudi os ombros. – Que dia está pensando em ir comprar seus novos livros? Preciso mesmo resolver algumas coisas em um vilarejo bruxo...
- Amanhã, talvez. Podemos ir a Arbanasi. Assim eu passo um tempo com Victor... Quase não nos vimos nas férias.
- Ok, tanto faz. – ele respondeu entediado e ri.

°°°

- Lavínia?! – Christine abriu a porta sorrindo. – Victor não nos avisou que você viria.
- Muito justo. Também não avisei a ele. Precisava comprar meus materiais e achei melhor aqui. Ele está em casa?
- Está sim, no quarto dele. Se quiser ir até lá...
- Vou sim. – me virei para falar com Vlade e Christine o reparou pela primeira vez, surpresa. – Me espera aqui? Vou perguntar se ele quer ir conosco.

Vlade acenou com a cabeça e subi correndo até o quarto de Victor. Ele estava deitado na cama, sem camisa, lendo um livro sobre quadribol. Sorri e ele deu um pulo vindo me abraçar.

- O que está fazendo aqui?
- Comprar os materiais. Aproveitei pra vir te ver. Fiz mal?
- Que pergunta. – me deu um beijo e com uma agilidade incrível trancou a porta do quarto e saiu me arrastando até a cama. Ri me desviando.
- Sossega. A proposta é tentadora, mas não podemos. Estamos em plena luz do dia, com sua irmã lá embaixo.
- Tudo bem. Christine não vem ao meu quarto nunca. – me puxou de volta me dando um beijo no pescoço.
- Ela pode até não vir, mas meu irmão viria, se eu demorasse demais a descer.
- Seu irmão? – Ele repetiu assustado se afastando e eu concordei com a cabeça, rindo.
- Em carne, osso e desconfiança. Ele também tinha que resolver algumas coisas em um vilarejo bruxo e veio me acompanhar. Na verdade, eu quem estou acompanhando ele e o tirando um pouco de casa... Já comprou todos os seus livros?
- Se esqueceu que minha mãe é dona da livraria do vilarejo? Já tenho tudo aqui.
- Ok. Então vou com Vlade providenciar os meus. Podemos nos ver depois.
- Ótima idéia. Venham jantar aqui em casa, então... Depois saímos para algum lugar... – ele recomeçou a se aproximar e me levantei, indo até a porta.
- Certo. Até mais tarde.

Desci as escadas esperando encontrar Vlade e Christine sentados em silêncio absoluto e constrangedor, mas me enganei. Os dois estavam na cozinha conversando animadamente, como se já tivessem se conhecido há anos.

- Oi. Ele não vai. Já comprou tudo. Nos convidou para jantar aqui esta noite, Christine.
- Ah, ótima idéia. – ela disse animada. – Venham mesmo, então. Aí posso terminar de te explicar mais sobre os pelúcios que estavam roubando cofres do Gringotes... – ela sorriu para Vlade que retribuiu. Nunca havia o visto tão “solto” daquela maneira e me diverti.
- Ok. Então nos vemos mais tarde?!
- Sim. Até.

Se despediram e quando seguimos andando pela avenida principal de Arbanasi, um sorriso besta continuava no rosto dele. Acho que por fim, ele não estava achando as férias tão chatas assim...

'cause these are the days worth living
these are the years we're giving
and these are the moments
these are the times
let's make the best out of our lives

The Calling - Our Lives