terça-feira, 17 de julho de 2007

Foi difícil para mim e Victor disfarçarmos as olheiras e caras de sono na manhã seguinte. Sorte que toda a família Neitchez estava muito empenhada conversando sobre a festa de noite que não repararam.

Durante a parte da manhã, Christine e eu fomos colher algumas verduras na horta da casa, e depois fomos até a estufa onde Leví caminhava entre as plantas parecendo muito satisfeito.
Assim que entramos, ele acenou para que nos aproximássemos e sorriu.

LN: Mag? Está na cozinha? – ele perguntou em tom receoso para Christine. Ela confirmou com a cabeça animada. – Certo. Então venha ver o que Karl e Christine trouxeram essa semana, Lavínia!

A julgar toda a preocupação em manter a esposa distante dali, eu soube que não seria nada de muito inocente. Estava certa. Ao alcançarmos o final da estufa, um canto escuro havia sido reservado para uma massa de raízes e galhos que se moviam lentamente.

LN: Sabe o que é? – os olhos de Leví brilharam.
LD: Visgo do diabo. Claro que sei! Nós estamos estudando ele no clube de herbologia para tentarmos encontrar alguma propriedade medicinal.
LN: Clube de herbologia é? Aposto como Victor não participa dele...
LD: É. Acho que Victor não se interessa muito por plantas. – sorri tentando parecer casual.
CN: Ele não sabe o que perde! Adoro estudá-las. Eu e Karl também éramos dos clubes de herbologia e de Trato das Criaturas Mágicas. Como sinto falta...

Ela manteve o olhar saudoso e eu tentei escapar de algum comentário, fazendo uma pergunta que não saía da cabeça.

LD: Vocês sabem que o visgo do diabo cresce rapidamente, não sabem? – perguntei em dúvida. Leví enrugou a testa.
LN: Sim, realmente cresce rápido.
LD: Como vão fazer para escondê-lo? Pode ser realmente perigoso se ele crescer demais.
LN: Ainda não pensamos nisso, não é Chris? Ele chegou essa semana e ainda há espaço para ele crescer por aqui... Quando não houver, despachamos uma parte dele para algum amigo maluco do Karl e do Adam.
CN: Ah sim, aposto que vão adorar! – Christine comentou sorridente. – Bom, é melhor eu e Lavínia levarmos logo essas verduras para mamãe antes que ela venha conferir o que andamos aprontando...
LN: Por Merlin! Depressa! Maggie nem pode imaginar que andamos cultivando Visgo do Diabo por aqui. É capaz de ela me matar e morrer logo em seguida!

Christine e eu rimos e voltamos para a cozinha. Charlotte havia saído bem cedo, pois tinha que ser intérprete de um grupo de bruxos italianos em uma conferência no Ministério. Gabrielle e Karl estavam jogando uma partida de bexigas, e Victor e Ricard conversavam no outro extremo da mesa bem baixo. Reparei que assim que entramos, os dois me olharam e sorriram parando de falar.

CN: Aqui está mamãe, fresquinhas! – Christine e eu pousamos as cestas de verdura na mesa. Maggie sorriu.
MN: Obrigada meninas. Chris, pode cortar os tomates para mim por favor? – ela perguntou gentil à filha que concordou pegando um bocado de tomates. Maggie se virou para mim. – Você se importaria de descascar as batatas querida?
LD: Claro que não! – disse de pronto apanhando a bacia de batatas e uma faca. - Me aproximei de onde Ricard e Victor conversavam. – Parem o assunto, por que o assunto acabou de chegar! – disse sorrindo e me sentando entre eles. Victor riu.
RD: Já te disse para deixar com essa mania de achar que o mundo gira em seu redor... – Ricard disse pensativo.
LD: Então se o assunto não sou eu. Qual é?
RD: “A GRANDE FAMÍLIA NEITCHEZ”! Victor estava me fazendo um breve perfil de seus tios, tias e primos... Olha só a foto! – Ricard mostrou a foto em cima da mesa rindo. Estavam ali todos os familiares, de avô e avó, até Gabrielle.
LD: Sério? Pois então pode começar de novo! – falei interessada descascando a primeira batata. Victor riu concordando e pegando fôlego.
VN: Essa é minha avó, Carrie, e esse meu avô Leví. – disse apontando para um casal de idosos no meio, que se abraçavam sorrindo. – Se conheceram no St. Alborghetti, apesar de terem se cruzado em Durmstrang também, por que vovó se formou um ano depois de vovô. Os dois eram medibruxos. Bom, tiveram quatro filhos. O mais velho deles é meu pai, mas esse eu não vou descrever ok? Acho que já deu para vocês o conhecerem bem...
LD: Ok, ok, vocês pode pular. Mas continua por que até agora está interessantíssimo! Medibruxos! – disse descascando uma segunda batata com um tom sonhador. Ricard riu e Victor continuou.
VN: Depois veio tia Valéria. Ela é casada com Anthony, ou o famoso tio Tony. Bom, não há muito mais a falar deles além de: são hilários! Os tios que eu mais gosto, disparadamente. Tia Valéria é coordenadora da Charlotte no Ministério da Magia. Trabalha há anos no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. E tio Tony é obliviador. Por causa dele eu estou pensando em me tornar um. São realmente muito animados e bem-humorados! Tiveram três filhos: Jason e Adam que são gêmeos, e Fabrício que é 6 anos mais novo que eles. –ele apontou para os tios, e os três primos. - Jason é um tipo sabichão, ambicioso. Não conversamos muito... Aliás, ele passa a maior parte do tempo conversando com Ashley e Charlotte, que são as duas que agüentam ele repetir toda hora o quanto ele é esperto! Está terminando direito bruxo. Adam é completamente diferente. Ele é sócio de Karl e Christine na loja de animais e faz parte do time reserva da seleção de quadribol da Bulgária. Com ele me dou muito bem! Fabrício... Bom, dele eu definitivamente tento manter distância. Muito pior que o Jason. Estuda na Escola Americana e é um saco!!! Jura que o mundo gira ao redor dele.
RD: Hum, mas ele já fez alguma coisa específica, ou é só implicância? – Ricard perguntou desconfiado e Victor o olhou sério.
VN: Acredite, ele é um saco! Não fala nada inteligente e faz piadinhas idiotas para chamar atenção. Tirando o fato que ele só foi para a Escola Americana de Magia para ser o diferencial, uma vez que todo o restante da família estuda, estudou, ou estudará em Durmstrang!
RD: Ah, certo. – Ricard concordou com um olhar de quem queria rir e me concentrei na batata. Era óbvio que Fabrício já tinha aprontado alguma com Victor, além de ser narcisista rebelde.
VN: Então vem tia Lauren, minha madrinha. – ele apontou para uma mulher loira ao lado do avô. Apesar de aparentar certa idade, era bem bonita ainda. Tinha traços fortes. – Ela se casou com Brian. Ele tinha uma loja de poções. Tiveram uma única filha, Ashley, e dois anos atrás ele morreu envenenado por uma poção que ele mesmo tinha feito. Depois desse acontecimento, tia Lauren raramente ri e leva bastante a sério até as menores das preocupações. É amargurada com a vida, e bastante sistemática. Ashley se parece bastante com Charlotte. É bem introspectiva e também quer ser advogada e está um ano atrás de Jason.
RD: Bom, bonita ela é. Quer dizer, bem bonita! – Ricard a olhou com interesse. Virei os olhos e apanhei outra batata. Victor sorriu.
VN: Por último, tia Agatha. Casada com tio Johnny, mãe de Igor e Andrea. Tia Agatha é a única que seguiu a profissão de meus avôs. Ela também é medibruxa. Tio Johnny é auror. Não são de conversar demais, nem tão animados quanto tia Valéria e tio Tony. Mas são simpáticos. Igor se formou com Charlotte e para orgulho de tio Johnny está fazendo a Academia de Aurores. E Andrea vai começar o 5° ano na Durmstrang, acho que vocês devem estar achando ela familiar...
LD: Hum, bem sabia que a conhecia de algum lugar! – Ricard concordou comigo. – Mas nunca te vi falando com ela... Ela também é um saco? - Ricard riu com gosto. Victor me olhou intrigado.
VN: Não converso com ela por que ela não conversa comigo. A única pessoa que conversa com Andrea são os pais dela e Christine, que algumas vezes consegue arrancar alguma coisa. Muito tímida. Quando passa por mim nem olha, então finjo que não vi também. Ação e reação.
RD: Deve ser estranho. Quer dizer, vocês pegam o mesmo trem todas as vezes, descem nas mesmas estações, se cruzam pelos corredores e salas, e nem ao menos se tratam como familiares?
VN: Já nos acostumamos a nos ignorarmos... – Victor disse franco encarando a foto mais uma vez para ver se não tinha se esquecido de ninguém. Terminei de descascar as batatas e levei até Maggie. Christine e ela riam abertamente enquanto misturavam coisas nas panelas.
MN: Ah, muito obrigada!
LD: De nada... Posso ajudar em mais alguma coisa?
CN: Acho que não, Vínia. Já está tudo sobre controle! – Christine piscou para mim sorrindo. Voltei para a mesa.
RD: E a família da sua mãe? – Ricard perguntou. Karl e Gabrielle que estavam ali perto e tinham parado a partida de bexigas, olharam de imediato para Maggie. Victor paralisou.
VN: Shhh! Aqui não. Venham comigo. – olhei assustada para Maggie, mas ela continuava distraída conversando alguma coisa bastante interessante com Christine, por que continuava a rir. Victor saiu da cozinha puxando uma verdadeira fila. Sentamos na sala.
KN: Desculpem o susto. É por que mamãe realmente não gosta de falar da família dela.
GN: Ninguém sabe nada da família dela. Talvez papai e nossos tios, mas ele não nos conta. Pede para que esqueçamos desse assunto.
RD: Então sua mãe é órfã?
KN: Quase isso. A única coisa que sabemos é que mamãe estudou com tia Valéria em Durmstrang, e quando estava terminando o 4° ano, fugiu de casa. Tia Valéria disse para ir morar na casa dos meus avôs, até que ela arrumasse um outro lugar. Mas então ela foi ficando, e meus avôs se apegaram nela. Até meus tios. E meu pai se apaixonou. Bom... Deu no que deu!
VN: Eles se casaram, mamãe nunca mais voltou à casa dela, e segundo tia Valéria, nunca mais procurou saber dos familiares. Nem o contrário.
GN: E nos tiveram! – Gabrielle concluiu e fez Karl, eu e Victor rirmos. Ricard permanecia sério.
RD: Ela também sabe o que é não ter uma família... – ele falou amargurado e fiquei séria. Victor, Karl e Gabrielle se entreolharam.
KN: Não, ela sabe. Por que a família do papai a adotou como filha também, então ela não sente falta. E como disse papai: Família nem sempre significa o núcleo de pessoas ao qual você pertence por nascença. Significa o núcleo de pessoas do qual você recebe atenção e apoio. – Karl disse. Todos nós continuamos em silêncio. – E acreditem, papai disse isso sem beber conhaque antes! Então é uma filosofia válida!

Todos riram. Christine apareceu na porta da cozinha rindo também.

CN: O almoço está pronto!!!

Como se quisessem animar um pouco, Karl, Victor e Gabrielle deram vivas e se levantaram de imediato nos puxando até a cozinha. Leví já tinha voltado da estufa e estava sentado ao lado de Maggie na mesa. Sorriram quando nos sentamos. Charlotte chegou um minuto depois.

CN: AHH, estou faminta! Pensei que esses italianos nunca fossem embora! Estava cansada de ser diplomática já! – abocanhou uma batata cozida.
KN: Já deu pra perceber, Chat.

Ela de repente reparou no quanto a boca estava cheia e soltou um sorriso sem graça. Ao meu lado, Ricard riu, mas mantinha uma expressão pensativa. Eu sabia o que ele estava pensando. Olhei ao redor e me senti feliz. Pela primeira vez me senti em família.

Are you not afraid to tell your story now, but everyone is gone?
It’s too late
Was everything you’ve ever said or done not the way you planned?
Mistake

The Corrs – Would you be happier?

terça-feira, 10 de julho de 2007

O sinal indicando o término das aulas soou. Lavínia não queria perder um só minuto. Precisava terminar rolos de deveres, praticar vários feitiços, analisar vários mapas estrelares. Tudo parecia tão diferente e louco para ela!

Era o seu primeiro ano no Instituto Durmstrang, e apesar de já terem se passado dois meses desde que ela tinha chegado, ela não conseguia se acostumar com tudo aquilo. Era um tipo de responsabilidade que ela ainda não tinha aprendido a carregar. Mas tinha certeza que ia se adaptar. Mais cedo ou mais tarde ela ia se adaptar.
Saiu pelos corredores carregando vários livros da biblioteca nas mãos. O inverno castigava, mas não havia tempo para reparar no bloco de neve que tampava seu caminho até a República. Devagar, começou a atravessar a camada de gelo.

Ali perto ouviu a risada de vários garotos, mas preferiu não parar para olhar o que estariam fazendo. Apenas continuou. E teria sido indiferente a tudo, se uma gelada e grande bola de neve não tivesse a acertado nas costas e feito com que todos os livros que carregava nas mãos saltassem para o chão. Ela sentiu o sangue ferver. Virou irritada.
Dois garotos vinham correndo com dificuldade em sua direção.

- Se machucou? – um menino branquelo de olhos azuis e óculos perguntou.
LD: Vocês... Vocês! UGH! Será que não conseguem ter nem pontaria?!
- Desculpa. Não te vimos passar atrás desse nevoeiro todo.

A menina olhou feio e se abaixou para apanhar os livros. O outro menino que até então estivera em silêncio observando com interesse, se abaixou de pronto para ajudá-la. Ela estava com muito ódio para reparar, mas ele mantinha um sorriso sonso no rosto.

LD: Todos molhados. A bibliotecária vai me matar.
- Você não sabe secá-los? É um feitiço simples, posso fazer... – o menino puxou a varinha e Lavínia achou aquilo demais. Riu.
LD: Obrigada. Eu sei fazer. E vocês já me atrasaram demais. Passar bem...

Só que antes que ela ou qualquer um dos outros dois pudesse se mover ou dizer mais alguma coisa, a menina sentiu sua cabeça rodar. Estava acostumada a ter essas tonturas, mas dessa vez foi mais forte. Seus olhos foram se fechando, seu corpo amolecendo. E ela se lembra de ouvir os livros caindo novamente, depois disso... Escuridão.

°°°

Acordou em uma sala grande, branca, iluminada demais. A considerar as cortinas brancas que estavam cercando a cama, ela soube que era a enfermaria do colégio. Sentou-se. O barulho fez com que passos apressados a alcançassem e abrissem a cortina. Uma moça sorridente a encarava.

- Então? Acostumada a desmaiar?
LD: Não. Tonturas já tive. Mas desmaios... É grave?
- Oh, não querida. Só acho que você não andou comendo no último dia. – a curandeira respondeu com gentileza. Era verdade. De fato ela não havia comido nada além de sapos de chocolate no último dia. Se sentiu uma idiota. – Já está liberada se quiser ir. Alimente-se direito da próxima vez. E a propósito, seus dois amigos estão esperando na sala de espera desde que te trouxeram...

Amigos? Ela não tinha amigos! Tinha trocado meia dúzia de palavras com as outras quatro meninas do seu quarto na República, mas ainda não eram amigas. Ela duvidada que lembrasse o nome de todas elas. Mas então ela se lembrou de tudo e percebeu. Eram os dois idiotas que a tinham acertado uma bola de neve. Sua cabeça deu um giro. Por que estavam esperando ela até agora se sabiam que ficaria bem? Levantou-se da cama e foi até lá. O menino de óculos se levantou de imediato a encarando sorridente. O outro se levantou enfiando as mãos nos bolsos olhando o tênis.

- Então... Se sentindo bem?
LD: Vou sobreviver. Se mais nenhuma bola de neve me encontrar por aí, quem sabe eu sobreviva.

Ela falou em tom irônico e o de óculos gargalhou. O outro apenas sacudiu os pés.

- Você é exagerada, garota.
LD: Certo. Onde estão minhas coisas?
- Ali. – ele apontou para o canto onde sua mochila e os livros já secos haviam sido colocados. Ela os recolheu e se preparou para sair olhando para eles mais uma vez.
LD: Tentem ser mais certeiros na próxima.

Ela se virou de costas. O menino deu outra gargalhada antes de perguntar.

- Não vai agradecer por termos te trazido até a enfermaria?

Ela se virou com raiva. Esse menino estava conseguindo a tirar do sério.

LD: Não fez mais do que a obrigação!
- Hum. Bom, então desculpe mais uma vez o incômodo e a propósito, me chamo Ricard. – ele estendeu a mão para ela que ficou olhando da mão para o rosto dele indecisa. Resolveu apertá-la.
LD: Lavínia Durigan. – ela então reparou pela primeira vez com grande interesse no outro menino que continuava calado. – Ele é mudo?

Ricard riu com gosto e sacudiu o outro que levantou o rosto para ela com um sorriso fraco. Estendeu a mão também.

- Victor Neitchez.

Ela apertou observando o quanto o garoto era interessante. Em todos os aspectos. Tinha a pele bem branca, os cabelos castanhos lisos jogados em seu rosto e os dois maiores olhos verdes que ela já havia visto. Alguma coisa naquele rosto a fez sorrir e o aperto de mão dos dois durou mais do que necessário.

RD: Então, já que fomos apresentados... – Ricard interrompeu o contato visual dos dois, consequentemente o aperto de mãos também. – Não quer ir tomar um chocolate quente conosco no vilarejo, Lavínia? Estávamos justamente pensando em ir lá quando você acordasse.

Ela considerou o convite. Os deveres e livros a inclinavam a recusar, mas ela já não estava com raiva. Estava se sentindo bem. Confortável. Não se sentia assim há tempos. Acabou aceitando. Afinal, que mal faria tentar algumas amizades por ali?

°°°

A sala e tudo ao redor estavam em silêncio total. As únicas luzes visíveis eram a da lamparina em cima da mesa, e uma fraca que vinha do aquário. Victor passava a mão em meus cabelos lentamente. Eu estava deitada ao seu lado, a cabeça em cima do seu peito descoberto, e mantinha um olhar fixo no aquário. Sorri. Victor percebeu e abaixou a cabeça para me olhar.

VN: Um beijo por seus pensamentos. – ele ofereceu. Subi meu corpo e lhe dei um beijo longo. Ele sorriu.
LD: Estava me lembrando do dia que nos conhecemos.

Ele fez um olhar pensativo e riu em seguida. Me abraçou mais junto ao corpo dele.

VN: O dia em que eu acertei uma bola de neve nas suas costas e Ricard assumiu toda a postura de culpado por que eu fiquei hipnotizado com você? Me lembro...
LD: Nos conhecemos há quase 5 anos, Vi!
VN: E eu me apaixonei por você desde o momento que bati os olhos nos seus. – ele passou o polegar devagar pelos meus olhos, nariz, boca... Me deu outro beijo. – Eu te amo.

O olhei. Senti um aperto no estômago. Não conseguia responder. Eu amo ele, claro que amo. Quer dizer... Amo? Por que não consegui responder? Sorri. Para ele aquilo pareceu o suficiente, pois continuou afagando meus cabelos.

LD: Não acha que devemos voltar? Já deve estar próximo de amanhecer, e não podem saber que sumimos.

Ele concordou com a cabeça, mas não fez menção de se levantar. Eu também não queria. Mas tínhamos que ir. Me sentei e recolhi a blusa no chão, vestindo-a. Victor ficou me observando.

LD: Vem. Você também precisa encontrar suas roupas por aqui... – puxei seu braço com força o fazendo sentar. Ele não tirava os olhos de mim.
VN: Eu te amo, Lavínia.

Não tinha como. Eu tinha que responder. Mas eu não conseguia. Alguma coisa dentro de mim não deixava. Ele parecia ter lido meus pensamentos.

VN: Não quero que diga que me ama se não sente isso ainda. Só quero que você saiba.

Concordei com a cabeça e fiz questão de me apressar ao vestir a calça. Precisava mudar de assunto. Sair dali. Fazê-lo parar.

Ele se levantou vestindo a roupa também e voltamos em silêncio. Ao chegarmos na porta do quarto de Charlotte, virei para ele, que me abraçou forte pela cintura e me fez encostar contra a parede, me prendendo.

LD: Vai acordar a casa inteira assim! – olhei para os lados alarmada. O silêncio ainda prevalecia. Ele parecia não se importar. Ficou olhando para mim um minuto, e me deu um beijo bastante lento, como se quisesse que o mundo acabasse naquele instante.

Quando nos soltamos, ele sorriu e entrou no quarto dele. Eu entrei no de Charlotte nas pontas dos pés. Ela continuava com um sono profundo. Deitei na cama e abracei o travesseiro. Um sorriso saiu no meu rosto sem pedir licença.

- Eu também te amo, Vi. – falei baixinho para mim mesma e fechei os olhos com força.

Your skin
Oh yeah, your skin and bones,
Turn into something beautiful,
Do you know?
You know I love you so,
You know I love you so.

Coldplay - Yellow

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Victor tinha de fato convencido eu e Ricard a passarmos um mês das férias de verão com a família dele. Ou melhor, com a GRANDE família dele. Composta de avôs, avós, tios, tias, primos, primas, genros, noras, mãe, pai, e nada menos do que quatro irmãos!
Os pais e irmãos de Victor vivem em uma casa muito grande, no povoado bruxo de Arbanasi. Quando digo povoado, é povoado mesmo! Arbanasi tem aproximadamente 500 moradores e fica a 4 km de Veliko Tarnovo, cidade onde o restante da família mora.

Os pais de Victor, Leví e Maggie, são búlgaros e ambos, bruxos aposentados. Leví era um famoso advogado bruxo, e Maggie era escritora de livros de feitiços. São casados há quase 30 anos. Hoje em dia, para não caírem em tédio, Leví cultiva uma grande horta e estufas no quintal de casa, e Maggie continua administrando a única livraria de Arbanasi. São pessoas extremamente simpáticas e pacientes.
E os irmãos de Victor... Bem, no mínimo são diferentes!

Karl Leví é o mais velho deles. Tem 25 anos e é dono da loja de animais do povoado. Está sempre de bom humor e pronto para lançar piadas contra os irmãos e demais familiares. Tem pinta de garanhão e Victor me disse que ele nunca teve uma namorada que durasse mais do que três dias.

Christine tem 23 anos. Ajuda o irmão na loja de animais, e o pai a cuidar das estufas e da horta em casa. É calma, adora plantas, animais, e o movimento pacato do vilarejo. Também tem um senso de humor imenso, além de ser muito inteligente.

Charlotte tem 18 anos e se formou em Durmstrang há um ano. Está fazendo estágio no Ministério da Magia, no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. Ela é mais fechada de todos eles. Sabe falar cinco línguas e é bastante vaidosa. Ainda assim, sempre foi muito gentil comigo.

Gabrielle é a caçula. Tem 9 anos e é a criança mais comportada que já conheci. Adora ler, cantar, faz jazz, já sabe tocar violino e se diverte com muito pouco.

Quando chegamos a Arbanasi, as férias que começaram bem tumultuadas por conta do ataque dos Comensais ao trem, deram uma guinada incrível para cima. Os pais e irmãos dele pareciam bem dispostos a fazer com que eu e Ricard nos sentíssemos bem à vontade, o que estava sendo desnecessário, pois não demorou nada até que eu me sentisse em casa.

Estávamos todos sentados à mesa, uma semana após o término das aulas. Tínhamos acabado de jantar e a cozinha caiu em silêncio profundo. Ricard suspirou satisfeito, pousando o garfo no prato.

RD: Estava tudo muito bom, Maggie. – a mulher sorriu gentil para ele, servindo-se de um pouco de café com conhaque.
MN: Obrigada querido. Mas tive ajuda. Não sabia que você sabia cozinhar tão bem, Lavínia. – ela continuou sorrindo e olhei constrangida.
LD: Ah, eu engano. Tive que aprender a cozinhar, por que meus pais não sossegam em casa.
MN: Sei como é. E não é culpa deles, sabe? Eu e Leví só estamos tendo tempo para a família agora, que nos aposentamos. Mas antes era uma loucura!
KL: Mas você nunca deixou de cozinhar para nós, mamãe! – Karl disse e Maggie olhou o repreendendo e de volta para mim, que ri.
LD: É, bom... Eu não os culpo de não terem tempo! – afirmei e ela pareceu aliviada.
LN: É o melhor a se fazer. Os pais são a sua ponte do passado ao futuro. – Leví comentou também tomando uma dose de conhaque e segurando a mão de sua mulher. Charlotte deu uma risadinha virando os olhos.
CN: Papai, não vai começar com suas filosofias de novo, vai?
- Deixe ele, Chat. Eu adoro as frases profundas que papai declara após boas doses de conhaque! – Christine sorriu e o pai retribuiu agradecendo. Karl soltou uma gargalhada alta.
KL: Chris, lembra aquele dia que papai nos disse... Hem hem: “Viver com autonomia é produzir a seiva da própria vida”. – Karl imitou a voz do pai e todos riram. – Foi quando abri a loja. Nunca me esqueço da sua cara séria, pai.
LN: Eu sei, eu sei. Vocês realmente nunca se esquecem dos meus ensinamentos! – ele deu uma pausa para terminar o cálice de conhaque então perguntou animado. – O que acham de irmos até Veliko Tarnovo amanhã? É aniversário de sua madrinha Victor, e você conhece a Lauren... Vão dar um jantar na casa de sua avó.

Victor concordou com a cabeça pensativo. Karl, Christine e Gabrielle apoiaram animados enquanto Charlotte ficou séria.

CN: Essas festas de família. Sempre é uma bagunça. Não sei por que tia Lauren não recebe as visitas em sua própria casa...
KN: Puts Charlotte, você está precisando de um namorado! As festas com todos são muito divertidas! – Karl disse e cutucou eu e Ricard. – Na última festa, tio Tony bebeu muito e fez strip-tease em cima da mesa. Foi hilário!

Eu gargalhei e Ricard arregalou os olhos assustado. Victor pigarreou começando a explicar.

VN: Claro que não terminou né? Papai o jogou em baixo do chuveiro gelado a tempo!
CN: Foi muito engraçado!!! Até vovô e vovó choraram de rir!

Ri imaginando a cena. O divertido não era pensar em atos assim. Era pensar nessa família, como um todo, comparada com a minha. Isso sim era bizarro!
Ficamos mais boas horas conversando até Maggie e Leví se despedirem para dormir e começarem com um efeito dominó. Em poucos minutos, todos subiam para seus quartos.

°°°

Tive a impressão de que tinha acabado de fechar os olhos quando senti um par de mãos me sacudindo. Acordei assustada e me sentei quando vi Victor de pijama ajoelhado ao lado da minha cama. Ele tapou minha boca para que eu não gritasse.

LD: Ta maluco?! O que aconteceu? – falei aos sussurros e Charlotte se mexeu na cama. Victor ficou olhando a irmã alarmado.
VN: Vem comigo.
LD: Onde?! Está tarde!
VN: Não vamos sair de casa. Quero te mostrar um lugar...

Ele respondeu ainda olhando Charlotte dormir. Eu me calcei e saímos do quarto de mãos dadas. A casa estava um silêncio profundo e em quase total escuridão. Descemos dois patamares de escadas e chegamos ao térreo. Entramos no escritório e Victor fechou a porta com cuidado, ligando a lamparina. Eu permanecia calada enquanto ele ia até a estante de livros e afastava uma coleção dos livros de feitiços que sua mãe havia escrito para o lado, e puxava uma alavanca atrás.
A estante se moveu para o lado, revelando um túnel escuro. Ele se virou para me olhar.

VN: Vamos!
LD: Para onde esse túnel leva, Vi?
VN: Você quer ver com seus próprios olhos, ou não?

Desisti de fazer perguntas. Segurei novamente a mão dele e entramos no túnel. Ele estendeu a lamparina na nossa frente. Era um túnel largo. O chão de madeira lustrosa e escura. E reparei que não era muito longo, pois não demorou muito e havíamos chegado ao final dele. Era uma sala retangular. A parede de frente era toda tomada por um grande aquário, e as outras possuíam quadros e fotos da família. Tinha uma mesa em um canto com uma máquina de escrever, vários pergaminhos e pastas empilhadas. E no outro canto, uma poltrona parecida com um divã, só que mais larga. Soltei um assovio.

LD: Caramba! Que máximo! Sua casa tem uma passagem secreta e uma sala secreta! – passei olhando os quadros e fotos.
VN: Aqui é onde minha mãe escrevia todos os livros... Eu adoro essa sala. Fico aqui horas fazendo os deveres durante as férias, pensando na vida...
LD: Muito agradável mesmo! – falei descontraída vendo a foto de Karl uns anos mais jovem, usando uma beca vermelha e estendendo satisfeito o diploma de Durmstrang. Sorri. Victor envolveu os braços na minha cintura e me deu um beijo no pescoço. Me virei rindo para ele lhe dando um beijo. – Sossega. Temos que ir dormir e além do mais, estamos na sua casa e...

Só que ele não me deu tempo de completar a frase e me deu outro beijo. E depois outro.

LD: Vi, é sério. Alguém pode acordar. – Tentava em vão fazer ele parar, mas ele continuava beijando minha orelha, meu pescoço, meu ombro. Me sacudi e consegui empurra-lo pra longe. – Sério! Vamos voltar!

Ele me olhou tremendamente impaciente, e me abraçou com mais força ainda, sorrindo.

VN: Estamos no meio da madrugada, todos da minha família estão dormindo, e há meses ninguém vem aqui além de mim! – disse abaixando uma das alças da minha blusa. Não pude deixar de sorrir.
LD: Mas e se...
VN: Lavínia, pelo amor de Merlin! Há quanto tempo não podemos ficar juntos? Você confia ou não em mim hein? Estou dizendo que ninguém vai nos ver aqui, nem perceber que saímos, agora será que dá para parar de me interromper???

Ele perguntou em tom definitivo. Ainda fiquei pensando em possibilidades mas vendo a insistência dele sorri o puxando e arrancando sua camiseta.

And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
Cause sooner or later it’s over
I just don’t want to miss you tonight

Goo goo dolls - Iris