terça-feira, 10 de julho de 2007

O sinal indicando o término das aulas soou. Lavínia não queria perder um só minuto. Precisava terminar rolos de deveres, praticar vários feitiços, analisar vários mapas estrelares. Tudo parecia tão diferente e louco para ela!

Era o seu primeiro ano no Instituto Durmstrang, e apesar de já terem se passado dois meses desde que ela tinha chegado, ela não conseguia se acostumar com tudo aquilo. Era um tipo de responsabilidade que ela ainda não tinha aprendido a carregar. Mas tinha certeza que ia se adaptar. Mais cedo ou mais tarde ela ia se adaptar.
Saiu pelos corredores carregando vários livros da biblioteca nas mãos. O inverno castigava, mas não havia tempo para reparar no bloco de neve que tampava seu caminho até a República. Devagar, começou a atravessar a camada de gelo.

Ali perto ouviu a risada de vários garotos, mas preferiu não parar para olhar o que estariam fazendo. Apenas continuou. E teria sido indiferente a tudo, se uma gelada e grande bola de neve não tivesse a acertado nas costas e feito com que todos os livros que carregava nas mãos saltassem para o chão. Ela sentiu o sangue ferver. Virou irritada.
Dois garotos vinham correndo com dificuldade em sua direção.

- Se machucou? – um menino branquelo de olhos azuis e óculos perguntou.
LD: Vocês... Vocês! UGH! Será que não conseguem ter nem pontaria?!
- Desculpa. Não te vimos passar atrás desse nevoeiro todo.

A menina olhou feio e se abaixou para apanhar os livros. O outro menino que até então estivera em silêncio observando com interesse, se abaixou de pronto para ajudá-la. Ela estava com muito ódio para reparar, mas ele mantinha um sorriso sonso no rosto.

LD: Todos molhados. A bibliotecária vai me matar.
- Você não sabe secá-los? É um feitiço simples, posso fazer... – o menino puxou a varinha e Lavínia achou aquilo demais. Riu.
LD: Obrigada. Eu sei fazer. E vocês já me atrasaram demais. Passar bem...

Só que antes que ela ou qualquer um dos outros dois pudesse se mover ou dizer mais alguma coisa, a menina sentiu sua cabeça rodar. Estava acostumada a ter essas tonturas, mas dessa vez foi mais forte. Seus olhos foram se fechando, seu corpo amolecendo. E ela se lembra de ouvir os livros caindo novamente, depois disso... Escuridão.

°°°

Acordou em uma sala grande, branca, iluminada demais. A considerar as cortinas brancas que estavam cercando a cama, ela soube que era a enfermaria do colégio. Sentou-se. O barulho fez com que passos apressados a alcançassem e abrissem a cortina. Uma moça sorridente a encarava.

- Então? Acostumada a desmaiar?
LD: Não. Tonturas já tive. Mas desmaios... É grave?
- Oh, não querida. Só acho que você não andou comendo no último dia. – a curandeira respondeu com gentileza. Era verdade. De fato ela não havia comido nada além de sapos de chocolate no último dia. Se sentiu uma idiota. – Já está liberada se quiser ir. Alimente-se direito da próxima vez. E a propósito, seus dois amigos estão esperando na sala de espera desde que te trouxeram...

Amigos? Ela não tinha amigos! Tinha trocado meia dúzia de palavras com as outras quatro meninas do seu quarto na República, mas ainda não eram amigas. Ela duvidada que lembrasse o nome de todas elas. Mas então ela se lembrou de tudo e percebeu. Eram os dois idiotas que a tinham acertado uma bola de neve. Sua cabeça deu um giro. Por que estavam esperando ela até agora se sabiam que ficaria bem? Levantou-se da cama e foi até lá. O menino de óculos se levantou de imediato a encarando sorridente. O outro se levantou enfiando as mãos nos bolsos olhando o tênis.

- Então... Se sentindo bem?
LD: Vou sobreviver. Se mais nenhuma bola de neve me encontrar por aí, quem sabe eu sobreviva.

Ela falou em tom irônico e o de óculos gargalhou. O outro apenas sacudiu os pés.

- Você é exagerada, garota.
LD: Certo. Onde estão minhas coisas?
- Ali. – ele apontou para o canto onde sua mochila e os livros já secos haviam sido colocados. Ela os recolheu e se preparou para sair olhando para eles mais uma vez.
LD: Tentem ser mais certeiros na próxima.

Ela se virou de costas. O menino deu outra gargalhada antes de perguntar.

- Não vai agradecer por termos te trazido até a enfermaria?

Ela se virou com raiva. Esse menino estava conseguindo a tirar do sério.

LD: Não fez mais do que a obrigação!
- Hum. Bom, então desculpe mais uma vez o incômodo e a propósito, me chamo Ricard. – ele estendeu a mão para ela que ficou olhando da mão para o rosto dele indecisa. Resolveu apertá-la.
LD: Lavínia Durigan. – ela então reparou pela primeira vez com grande interesse no outro menino que continuava calado. – Ele é mudo?

Ricard riu com gosto e sacudiu o outro que levantou o rosto para ela com um sorriso fraco. Estendeu a mão também.

- Victor Neitchez.

Ela apertou observando o quanto o garoto era interessante. Em todos os aspectos. Tinha a pele bem branca, os cabelos castanhos lisos jogados em seu rosto e os dois maiores olhos verdes que ela já havia visto. Alguma coisa naquele rosto a fez sorrir e o aperto de mão dos dois durou mais do que necessário.

RD: Então, já que fomos apresentados... – Ricard interrompeu o contato visual dos dois, consequentemente o aperto de mãos também. – Não quer ir tomar um chocolate quente conosco no vilarejo, Lavínia? Estávamos justamente pensando em ir lá quando você acordasse.

Ela considerou o convite. Os deveres e livros a inclinavam a recusar, mas ela já não estava com raiva. Estava se sentindo bem. Confortável. Não se sentia assim há tempos. Acabou aceitando. Afinal, que mal faria tentar algumas amizades por ali?

°°°

A sala e tudo ao redor estavam em silêncio total. As únicas luzes visíveis eram a da lamparina em cima da mesa, e uma fraca que vinha do aquário. Victor passava a mão em meus cabelos lentamente. Eu estava deitada ao seu lado, a cabeça em cima do seu peito descoberto, e mantinha um olhar fixo no aquário. Sorri. Victor percebeu e abaixou a cabeça para me olhar.

VN: Um beijo por seus pensamentos. – ele ofereceu. Subi meu corpo e lhe dei um beijo longo. Ele sorriu.
LD: Estava me lembrando do dia que nos conhecemos.

Ele fez um olhar pensativo e riu em seguida. Me abraçou mais junto ao corpo dele.

VN: O dia em que eu acertei uma bola de neve nas suas costas e Ricard assumiu toda a postura de culpado por que eu fiquei hipnotizado com você? Me lembro...
LD: Nos conhecemos há quase 5 anos, Vi!
VN: E eu me apaixonei por você desde o momento que bati os olhos nos seus. – ele passou o polegar devagar pelos meus olhos, nariz, boca... Me deu outro beijo. – Eu te amo.

O olhei. Senti um aperto no estômago. Não conseguia responder. Eu amo ele, claro que amo. Quer dizer... Amo? Por que não consegui responder? Sorri. Para ele aquilo pareceu o suficiente, pois continuou afagando meus cabelos.

LD: Não acha que devemos voltar? Já deve estar próximo de amanhecer, e não podem saber que sumimos.

Ele concordou com a cabeça, mas não fez menção de se levantar. Eu também não queria. Mas tínhamos que ir. Me sentei e recolhi a blusa no chão, vestindo-a. Victor ficou me observando.

LD: Vem. Você também precisa encontrar suas roupas por aqui... – puxei seu braço com força o fazendo sentar. Ele não tirava os olhos de mim.
VN: Eu te amo, Lavínia.

Não tinha como. Eu tinha que responder. Mas eu não conseguia. Alguma coisa dentro de mim não deixava. Ele parecia ter lido meus pensamentos.

VN: Não quero que diga que me ama se não sente isso ainda. Só quero que você saiba.

Concordei com a cabeça e fiz questão de me apressar ao vestir a calça. Precisava mudar de assunto. Sair dali. Fazê-lo parar.

Ele se levantou vestindo a roupa também e voltamos em silêncio. Ao chegarmos na porta do quarto de Charlotte, virei para ele, que me abraçou forte pela cintura e me fez encostar contra a parede, me prendendo.

LD: Vai acordar a casa inteira assim! – olhei para os lados alarmada. O silêncio ainda prevalecia. Ele parecia não se importar. Ficou olhando para mim um minuto, e me deu um beijo bastante lento, como se quisesse que o mundo acabasse naquele instante.

Quando nos soltamos, ele sorriu e entrou no quarto dele. Eu entrei no de Charlotte nas pontas dos pés. Ela continuava com um sono profundo. Deitei na cama e abracei o travesseiro. Um sorriso saiu no meu rosto sem pedir licença.

- Eu também te amo, Vi. – falei baixinho para mim mesma e fechei os olhos com força.

Your skin
Oh yeah, your skin and bones,
Turn into something beautiful,
Do you know?
You know I love you so,
You know I love you so.

Coldplay - Yellow

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