terça-feira, 17 de julho de 2007

Foi difícil para mim e Victor disfarçarmos as olheiras e caras de sono na manhã seguinte. Sorte que toda a família Neitchez estava muito empenhada conversando sobre a festa de noite que não repararam.

Durante a parte da manhã, Christine e eu fomos colher algumas verduras na horta da casa, e depois fomos até a estufa onde Leví caminhava entre as plantas parecendo muito satisfeito.
Assim que entramos, ele acenou para que nos aproximássemos e sorriu.

LN: Mag? Está na cozinha? – ele perguntou em tom receoso para Christine. Ela confirmou com a cabeça animada. – Certo. Então venha ver o que Karl e Christine trouxeram essa semana, Lavínia!

A julgar toda a preocupação em manter a esposa distante dali, eu soube que não seria nada de muito inocente. Estava certa. Ao alcançarmos o final da estufa, um canto escuro havia sido reservado para uma massa de raízes e galhos que se moviam lentamente.

LN: Sabe o que é? – os olhos de Leví brilharam.
LD: Visgo do diabo. Claro que sei! Nós estamos estudando ele no clube de herbologia para tentarmos encontrar alguma propriedade medicinal.
LN: Clube de herbologia é? Aposto como Victor não participa dele...
LD: É. Acho que Victor não se interessa muito por plantas. – sorri tentando parecer casual.
CN: Ele não sabe o que perde! Adoro estudá-las. Eu e Karl também éramos dos clubes de herbologia e de Trato das Criaturas Mágicas. Como sinto falta...

Ela manteve o olhar saudoso e eu tentei escapar de algum comentário, fazendo uma pergunta que não saía da cabeça.

LD: Vocês sabem que o visgo do diabo cresce rapidamente, não sabem? – perguntei em dúvida. Leví enrugou a testa.
LN: Sim, realmente cresce rápido.
LD: Como vão fazer para escondê-lo? Pode ser realmente perigoso se ele crescer demais.
LN: Ainda não pensamos nisso, não é Chris? Ele chegou essa semana e ainda há espaço para ele crescer por aqui... Quando não houver, despachamos uma parte dele para algum amigo maluco do Karl e do Adam.
CN: Ah sim, aposto que vão adorar! – Christine comentou sorridente. – Bom, é melhor eu e Lavínia levarmos logo essas verduras para mamãe antes que ela venha conferir o que andamos aprontando...
LN: Por Merlin! Depressa! Maggie nem pode imaginar que andamos cultivando Visgo do Diabo por aqui. É capaz de ela me matar e morrer logo em seguida!

Christine e eu rimos e voltamos para a cozinha. Charlotte havia saído bem cedo, pois tinha que ser intérprete de um grupo de bruxos italianos em uma conferência no Ministério. Gabrielle e Karl estavam jogando uma partida de bexigas, e Victor e Ricard conversavam no outro extremo da mesa bem baixo. Reparei que assim que entramos, os dois me olharam e sorriram parando de falar.

CN: Aqui está mamãe, fresquinhas! – Christine e eu pousamos as cestas de verdura na mesa. Maggie sorriu.
MN: Obrigada meninas. Chris, pode cortar os tomates para mim por favor? – ela perguntou gentil à filha que concordou pegando um bocado de tomates. Maggie se virou para mim. – Você se importaria de descascar as batatas querida?
LD: Claro que não! – disse de pronto apanhando a bacia de batatas e uma faca. - Me aproximei de onde Ricard e Victor conversavam. – Parem o assunto, por que o assunto acabou de chegar! – disse sorrindo e me sentando entre eles. Victor riu.
RD: Já te disse para deixar com essa mania de achar que o mundo gira em seu redor... – Ricard disse pensativo.
LD: Então se o assunto não sou eu. Qual é?
RD: “A GRANDE FAMÍLIA NEITCHEZ”! Victor estava me fazendo um breve perfil de seus tios, tias e primos... Olha só a foto! – Ricard mostrou a foto em cima da mesa rindo. Estavam ali todos os familiares, de avô e avó, até Gabrielle.
LD: Sério? Pois então pode começar de novo! – falei interessada descascando a primeira batata. Victor riu concordando e pegando fôlego.
VN: Essa é minha avó, Carrie, e esse meu avô Leví. – disse apontando para um casal de idosos no meio, que se abraçavam sorrindo. – Se conheceram no St. Alborghetti, apesar de terem se cruzado em Durmstrang também, por que vovó se formou um ano depois de vovô. Os dois eram medibruxos. Bom, tiveram quatro filhos. O mais velho deles é meu pai, mas esse eu não vou descrever ok? Acho que já deu para vocês o conhecerem bem...
LD: Ok, ok, vocês pode pular. Mas continua por que até agora está interessantíssimo! Medibruxos! – disse descascando uma segunda batata com um tom sonhador. Ricard riu e Victor continuou.
VN: Depois veio tia Valéria. Ela é casada com Anthony, ou o famoso tio Tony. Bom, não há muito mais a falar deles além de: são hilários! Os tios que eu mais gosto, disparadamente. Tia Valéria é coordenadora da Charlotte no Ministério da Magia. Trabalha há anos no Departamento de Cooperação Internacional em Magia. E tio Tony é obliviador. Por causa dele eu estou pensando em me tornar um. São realmente muito animados e bem-humorados! Tiveram três filhos: Jason e Adam que são gêmeos, e Fabrício que é 6 anos mais novo que eles. –ele apontou para os tios, e os três primos. - Jason é um tipo sabichão, ambicioso. Não conversamos muito... Aliás, ele passa a maior parte do tempo conversando com Ashley e Charlotte, que são as duas que agüentam ele repetir toda hora o quanto ele é esperto! Está terminando direito bruxo. Adam é completamente diferente. Ele é sócio de Karl e Christine na loja de animais e faz parte do time reserva da seleção de quadribol da Bulgária. Com ele me dou muito bem! Fabrício... Bom, dele eu definitivamente tento manter distância. Muito pior que o Jason. Estuda na Escola Americana e é um saco!!! Jura que o mundo gira ao redor dele.
RD: Hum, mas ele já fez alguma coisa específica, ou é só implicância? – Ricard perguntou desconfiado e Victor o olhou sério.
VN: Acredite, ele é um saco! Não fala nada inteligente e faz piadinhas idiotas para chamar atenção. Tirando o fato que ele só foi para a Escola Americana de Magia para ser o diferencial, uma vez que todo o restante da família estuda, estudou, ou estudará em Durmstrang!
RD: Ah, certo. – Ricard concordou com um olhar de quem queria rir e me concentrei na batata. Era óbvio que Fabrício já tinha aprontado alguma com Victor, além de ser narcisista rebelde.
VN: Então vem tia Lauren, minha madrinha. – ele apontou para uma mulher loira ao lado do avô. Apesar de aparentar certa idade, era bem bonita ainda. Tinha traços fortes. – Ela se casou com Brian. Ele tinha uma loja de poções. Tiveram uma única filha, Ashley, e dois anos atrás ele morreu envenenado por uma poção que ele mesmo tinha feito. Depois desse acontecimento, tia Lauren raramente ri e leva bastante a sério até as menores das preocupações. É amargurada com a vida, e bastante sistemática. Ashley se parece bastante com Charlotte. É bem introspectiva e também quer ser advogada e está um ano atrás de Jason.
RD: Bom, bonita ela é. Quer dizer, bem bonita! – Ricard a olhou com interesse. Virei os olhos e apanhei outra batata. Victor sorriu.
VN: Por último, tia Agatha. Casada com tio Johnny, mãe de Igor e Andrea. Tia Agatha é a única que seguiu a profissão de meus avôs. Ela também é medibruxa. Tio Johnny é auror. Não são de conversar demais, nem tão animados quanto tia Valéria e tio Tony. Mas são simpáticos. Igor se formou com Charlotte e para orgulho de tio Johnny está fazendo a Academia de Aurores. E Andrea vai começar o 5° ano na Durmstrang, acho que vocês devem estar achando ela familiar...
LD: Hum, bem sabia que a conhecia de algum lugar! – Ricard concordou comigo. – Mas nunca te vi falando com ela... Ela também é um saco? - Ricard riu com gosto. Victor me olhou intrigado.
VN: Não converso com ela por que ela não conversa comigo. A única pessoa que conversa com Andrea são os pais dela e Christine, que algumas vezes consegue arrancar alguma coisa. Muito tímida. Quando passa por mim nem olha, então finjo que não vi também. Ação e reação.
RD: Deve ser estranho. Quer dizer, vocês pegam o mesmo trem todas as vezes, descem nas mesmas estações, se cruzam pelos corredores e salas, e nem ao menos se tratam como familiares?
VN: Já nos acostumamos a nos ignorarmos... – Victor disse franco encarando a foto mais uma vez para ver se não tinha se esquecido de ninguém. Terminei de descascar as batatas e levei até Maggie. Christine e ela riam abertamente enquanto misturavam coisas nas panelas.
MN: Ah, muito obrigada!
LD: De nada... Posso ajudar em mais alguma coisa?
CN: Acho que não, Vínia. Já está tudo sobre controle! – Christine piscou para mim sorrindo. Voltei para a mesa.
RD: E a família da sua mãe? – Ricard perguntou. Karl e Gabrielle que estavam ali perto e tinham parado a partida de bexigas, olharam de imediato para Maggie. Victor paralisou.
VN: Shhh! Aqui não. Venham comigo. – olhei assustada para Maggie, mas ela continuava distraída conversando alguma coisa bastante interessante com Christine, por que continuava a rir. Victor saiu da cozinha puxando uma verdadeira fila. Sentamos na sala.
KN: Desculpem o susto. É por que mamãe realmente não gosta de falar da família dela.
GN: Ninguém sabe nada da família dela. Talvez papai e nossos tios, mas ele não nos conta. Pede para que esqueçamos desse assunto.
RD: Então sua mãe é órfã?
KN: Quase isso. A única coisa que sabemos é que mamãe estudou com tia Valéria em Durmstrang, e quando estava terminando o 4° ano, fugiu de casa. Tia Valéria disse para ir morar na casa dos meus avôs, até que ela arrumasse um outro lugar. Mas então ela foi ficando, e meus avôs se apegaram nela. Até meus tios. E meu pai se apaixonou. Bom... Deu no que deu!
VN: Eles se casaram, mamãe nunca mais voltou à casa dela, e segundo tia Valéria, nunca mais procurou saber dos familiares. Nem o contrário.
GN: E nos tiveram! – Gabrielle concluiu e fez Karl, eu e Victor rirmos. Ricard permanecia sério.
RD: Ela também sabe o que é não ter uma família... – ele falou amargurado e fiquei séria. Victor, Karl e Gabrielle se entreolharam.
KN: Não, ela sabe. Por que a família do papai a adotou como filha também, então ela não sente falta. E como disse papai: Família nem sempre significa o núcleo de pessoas ao qual você pertence por nascença. Significa o núcleo de pessoas do qual você recebe atenção e apoio. – Karl disse. Todos nós continuamos em silêncio. – E acreditem, papai disse isso sem beber conhaque antes! Então é uma filosofia válida!

Todos riram. Christine apareceu na porta da cozinha rindo também.

CN: O almoço está pronto!!!

Como se quisessem animar um pouco, Karl, Victor e Gabrielle deram vivas e se levantaram de imediato nos puxando até a cozinha. Leví já tinha voltado da estufa e estava sentado ao lado de Maggie na mesa. Sorriram quando nos sentamos. Charlotte chegou um minuto depois.

CN: AHH, estou faminta! Pensei que esses italianos nunca fossem embora! Estava cansada de ser diplomática já! – abocanhou uma batata cozida.
KN: Já deu pra perceber, Chat.

Ela de repente reparou no quanto a boca estava cheia e soltou um sorriso sem graça. Ao meu lado, Ricard riu, mas mantinha uma expressão pensativa. Eu sabia o que ele estava pensando. Olhei ao redor e me senti feliz. Pela primeira vez me senti em família.

Are you not afraid to tell your story now, but everyone is gone?
It’s too late
Was everything you’ve ever said or done not the way you planned?
Mistake

The Corrs – Would you be happier?

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